Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Dentro

Eu me apavorei quando me vi presa em seus olhos. Era ali um abismo profundo demais e minhas mãos já escorriam pelo último galho preso a ribanceira. Tão logo, em pequenos instantes, eu estaria caindo para sempre. Sendo tão absurdamente sugada pra dentro de você e quem é que sabe se alguém já conseguiu sair de você? Será que ninguém nunca morreu de amor e ficou pra sempre dentro de você sem vida, nem alma tendo que te aguentar sendo amado por outras pessoas sem fazer nada?

Existia em você a força de um buraco-negro e, mesmo que essa força de atração não fosse tão grande, eu me deixei atrair por você como algo irresistível, como imãs de polaridades opostas se atraem. 

Existe algo nos seus olhos que devora pessoas, corações e sentimentos. Seus olhos me devoraram e agora me digerem. Estou presa, sem poder fazer nada, segurando-me um pouco mais antes de cair de uma vez pra dentro de você e eu não resisto.

Não luto. Não quero lutar contra essa atração fundamental que me consome agora. Quero morar aí dentro de você, mesmo sem saber se dentro de você é tão bonito quanto você é por fora ou quanto aquele seu olhar que me prendeu pra sempre no castanho dos seus olhos.

Eu tentei gritar, mas em volta de você não existia mais ninguém: apenas eu sendo tragada para dentro de você, sorrindo e leve. Perdida, apaixonada, moradora sua, sua, só sua.


E agora, já sem pavor, desisto de segurar o ultimo galho que me prendia na entrada de você, me solto e mergulho em uma imensidão de formas multicoloridas e de várias dimensões. Você não é escuro, você é luz de todas as cores, ainda mais encantador aqui dentro. Sorrio, suspiro, derreto-me: minha nova morada é a mais linda e feliz de todas. 

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