Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Apenas corpos

"Não, eu não estou apaixonada por ele." Foram essas as palavras que saíram da minha boca ao ouvir a fatídica pergunta e lembrar-me dele na minha cama horas mais cedo. Ele não tinha expressão nenhuma adormecido ao meu lado, deixando as costas marcadas e uma das pernas de fora da coberta.

Eu olhava-o e sentimento nenhum movia-se em mim. Era lindo. Era um corpo lindo. Nada mais que um corpo.

Eram só nossos corpos que se conheciam e se entranhavam e se amavam em sussurros. Enquanto os corpos quase sem vida se fundiam numa sintonia de desejo infinito, nossas almas assistiam aquele balé a uma distância segura. Porque não era sobre almas, era sobre corpos.

As bocas ali jamais aprenderiam a falar "eu te amo" porque mal tinham tempo pras palavras quando juntas: preferiam explorar-se os corpos, as línguas, os órgãos... Quando separadas a única verbalização das nossas bocas era para lembrar do desejo vivido ou para marcar o próximo encontro dos corpos.

Ninguém acredita quando eu digo que não é exatamente paixão, muito menos amor... Não tem alma, não tem coração, não tem pretensões de compromisso, não existem mentiras, nem meias palavras, nada exige provas. Tudo aqui é corpo e sentido na pele.

E talvez ninguém mais entenda a sublime felicidade dos nossos corpos nus na cama, porque ninguém entende a beleza e a sinceridade que reinam nessa relação.

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