Primeiro chegou uma carta longa com letra cursiva e milhares
de promessas de amor vagas. Abriu, leu, não respondeu... mas sorriu e encheu o
coração de uma esperança de que a sua vez no amor chegou.
Todas aquelas letras no papel amarelado tinham um
significado maior que tudo. No mundo dela, as palavras eram de uma importância
tamanha. Verdadeiramente eram o mundo dela. O que ela esquecia era de perguntar
se palavras manuscritas apaixonadas eram contratos de vida inteira no mundo de
todos. Talvez inocência, talvez romantismo exacerbado.
Depois chegou um cartão cor-de-rosa com uma rosa seca presa
por uma fitinha de cetim. Junto com o perfume da falecida rosa, mais meia dúzia
de promessas relativamente mortas. Promessas grandes demais e eternas demais
sempre morrem rápido, mas ela não sabia disso.
Ela não saiba que o amor quando prometido demais ou desejado
em excesso no início, na verdade não é amor, é paixão. E paixão tem prazo de
validade, provavelmente porque vem com força demais e depois esgota.
E os cartões continuavam chegando, cada dia mais lindos e
ela foi se encantando como princesa que confia no príncipe encantado para
tirá-la da torre negra a qual foi colocada com feitiço de desamor.
Pobre menina
inocente e malditos os contos infantis que mentem para as meninas indefesas e
fazem com que saiam na vida procurando príncipe encantando sem notar que, nem
existem príncipes, tampouco elas são princesas. Existem humanos vivendo vidas
meio tortas e relacionando-se como dá ou escorando-se uns nos outros para não
cair na mediocridade da vida.
O príncipe não tinha cavalo branco, nem toda aquela beleza
que deveria ter. Tinha promessas em linhas e mais linhas, mentiras ou não.
Tanto fazia para ela, estava cega de amores. Para ela tudo que ele dizia era
verdadeiro e mágico, ele era o mais bonito do mundo e o seu “felizes para
sempre” era realmente eterno.
Por razões inexplicáveis para ela, mas bem explicáveis para
o resto do mundo, a doçura dele foi diminuindo à medida que o tempo passava. Já
não chegavam mais cartas, nem cartões, nem poemas em dias quaisquer. Ela
continuava pintando ele de príncipe, fingindo que a realidade não existia.
Mas, querendo ou não, doendo ou não, um dia a gente tem que
crescer e admitir que os contos de fadas eram mentirosos. A gente tem que abrir
os olhos e notar que a realidade é bem mais negra do que aquela que os livros
infantis pintam (embora aquela realidade devesse ser apavorante, já que isso de
princesas presas em torres por bruxas más e vigiadas por dragões é
absolutamente apavorante).
Em um dia qualquer, ela dormiu com um príncipe e acordou com
um sapo. Notou que ele não era assim tão bonito, nem tão gentil, nem tão
carinhoso e que na verdade, escrevia mal e fazia promessas vazias. Mandou o
príncipe-sapo embora e nunca mais quis ser princesa de ninguém. Era o fim de um
conto de fadas e da procura dolorosa de um “felizes para sempre” que talvez
nunca chegue.
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