Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

terça-feira, 1 de maio de 2018

Vida amarela

A gente ri um riso mecânico, pronto. Riso de quem assumiu a sua função no mundo e aceitou as regras nas linhas pequenas sem ler muito bem: sorria e viva.
A gente vive como quem já não sabe bem o que é viver. O que é? Acordar, banho pra lembrar que estamos vivos. Pera, a gente não tava vivo? A gente vive tentando despertar. Como quem vive um lapso de tempo, um sonho estranho e repetitivo. A gente toma banho e café pra acordar e o mundo nos faz adormecer, cansados dele e da vida.
Qual vida? Ah, aquela que a gente vive. Sob pressão de ser, produzir, estar. A vida em que a gente sorri sem querer e segura o choro e aí aguenta o nó na garganta nos sufocando.
A vida que nos traz boletos, salários, problemas, alegrias que a gente aproveita um pouco e se vão. A vida que nos acorda cedo, nos fala o que fazer e depois nos manda dormir porque amanhã, tudo será igual. A vida que nos manda sair e sorrir no final de semana e depois dormir, porque amanhã tudo vai ser igual. Essa vida que não nos dá tempo de ter sonhos e expectativas. Mas teríamos se tivéssemos tempo?
A vida nos ditou um padrão de alegria, nos e me entorpeceu. E eu aceitei, nós aceitamos. Nosso vazio se preenche de vida mecânica, sorrisos amarelos. Nosso vazio não se preenche com nada. Mas nós, aceitamos a condição.