Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Apenas uma estória

 Conta a lenda que num reino antigo
Aconteceria um baile real
Que não tinha muita pompa,
Mas ainda era real.

Ela, donzela, chegou atrapalhada.
Ele, cavalheiro, chegou sem esperança.
Comeram, beberam, conversaram,
Mas não se viram, não se conheceram.

Até soar o primeiro minuto da madrugada.
Ela tentava chegar ao banheiro – já tonta –
Ele tentava pegar mais uma bebida –
Para ficar tonto ou não.

Ela derrubou a bebida dele,
Ele sorriu de graça.
Convidou-a para dançar.
Ela aceitou por pura oportunidade.

Ele a olhou profundamente.
Era donzela, mas nem tão bela,
Porém de um sorriso doce e simples.
Falava muito, ele pouco ouvia.

Para ela, ele era um cavalheiro,
Nem tão forte, nem tão corajoso.
Mas tinha mãos leves e olhos
Cheios de mistérios.

A música acabou, mas a vontade deles
De acabar a dança, não.
Continuaram no meio do salão,
Enquanto todos os olhavam entre curiosos e assustados.

Ela tinha que ir embora.
Ele, nem tinha para onde ir.
Saíram noite adentro, sem medo.
Beijaram-se na porta da casa dela.

Como era de se esperar, ele
Veio vê-la no dia seguinte
Com um ramalhete de flores
Colhidas no jardim.

Ela, meio sem jeito, atendeu-o
Com sorriso amarelado,
Mas explodindo em felicidade internamente,
Tentando disfarçar.

Ele notou, beijou-a antes
Que ela pudesse reclamar.
Claro, ela não reclamou.
Retribuiu o beijo com sinceridade.

Os dias passaram lentos.
Eles viam-se quase diariamente.
Como era natural, a vontade
Deles crescia ao passo do nascer de cada dia.

A sociedade não entendia a relação deles.
Repudiavam, achavam que deviam se casar.
Modernidades não existiam naquela época,
Muito menos amores livres.

Eles continuavam juntos.
Felizes e apaixonados (cada dia mais).
Mas ela, começou a ouvir os outros.
Cobrou-lhe um anel no dedo.

Ele apavorou-se, saiu correndo.
Largou-a no meio do parque falando sozinha.
Ficou dias sem aparecer.
Ela chorava de tristeza e remorso.

Certo dia, ela acordou decidida:
Falaria com ele, pediria desculpas,
Esqueceria aquela idéia boba.
Caminhou pela rua feliz e leve.

Parou na padaria e comprou-lhe
Um café forte e sem açúcar –
Como ele gostava.
Bateu à porta, ele atendeu.

Olhar desanimado e triste.
Conversaram muito pouco.
A saudade dos beijos era maior.
Estavam juntos novamente.

O que não sabiam é que a
Alegria era-lhes efêmera.
Ele saiu para comprar-lhe
O anel que ela queria.

Um caminhão desavisado seguia
Em sua direção. Um instante, um estalo.
Batem na porta dela, um mensageiro.
Ele sofreu um acidente, está no hospital.

Ela chora, fica paralisada,
Não entende, não aceita.
Chega ao hospital, segura a mão
Pela qual se apaixonou outrora.

Fala-lhe de seu amor,
Da necessidade que tem dele.
Dos dias que acabarão sem ele.
Das flores que nunca mais terão cores.

Ele continua adormecido.
Ela dá-lhe um beijo no rosto.
Acabou-se a vida.
O coração parou, nada mais.

Ela saiu dali rapidamente.
Correu pelas ruas a gritar,
Desesperada, quase louca.
Nunca mais amou ninguém.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Mate-me

Deixa o vermelho das minhas unhas
Desenhar em suas costas brancas.
Deixa meus dedos se perderem
No seu sangue, na sua pele.

Perca a sua boca suculenta na minha
Nos meus seios, no meu sexo.
Perca suas mãos em minha barriga
E no calor da nossa respiração.

Deixa a minha luxúria te consumir
Pois é isso que ela mais quer.
Deixa meus olhos te engolirem
E depois te cuspirem de desejo.

Deixe-me sem fôlego, sem ar.
Acabe com meus pensamentos
Que não sejam sua carne.
Acabe com minha vida.

Deixa-me sentir seus poros.
Minha pele na sua sedenta.
Seu desejo crescente,
O meu interminável.

Perca sua noite comigo.
Perca sua noite para a luxúria.
Perca sua saliva para mim.
Perca seus sentidos nos meus.

Deixa-me explorar seu corpo
Como terra recém descoberta.
Deixe-se entregar em meu corpo.
Deixe-se fundir a mim.

E no auge do prazer desmedido
Segure a minha mão
Para chegarmos às estrelas
Que brilham como meus olhos.

Depois, deixe-me adormecer
No seu peito, no seu sonho,
Nos seus pelos, nos seus olhos,
Na sua respiração falha.

Ao acordarmos, se entregue
Novamente ao não pensar,
Ao meu corpo, ao desejo.
Mate-me de prazer.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Verde

Dias iguais de assim ser.
Vontades desiguais por todo o corpo.
Encantamento nos olhos brilhantes.
Noites com cheiros novos.

O meu sentir tuas mãos
É tão real em sonhos.
Mas sonhos são só desejos guardados.
Em dias de esperança maior.

Esperança já é a cor dos olhos meus.
Nada deveria ser além disto.
A verdade é que o mundo
Dos sonhos é o que gosto de habitar.

E no jardim das flores multicolores
Vi um futuro a que não pertenço.
Desenhei um novo sonho
Num castelo de pedras.