Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Percepções

O que seria da cor dos caminhos
Não fosse o amarelo doado
Pelas folhas no outono?

Quem perceberia o brilho do sol
Sem aquelas sombras assustadoras,
Ou pela ausência de luz noturna?

A quem não tem travesseiro,
Ou é incapaz de acordar,
Qual seria a necessidade de no sono sonhar?

Como se a língua necrosasse
E as primaveras acabassem,
Qual seria o sabor das amoras?

Por falta de ser e do sentido,
Na ausência das dores do mundo.
Por que da existência dos anestésicos?

Sem correr ou acelerar,
Com todos os movimentos parados e eternos,
Inexiste a inércia?

Com a morte da última leviana,
Sem o nariz ou as mãos,
Quem cuidará dos sentimentos impuros?

Sem as manhãs de inverno
Em que a velha faz doces,
Perde seu açúcar o caramelo?

Se o navio perder-se no mar
E netuno revoltar-se com as águas,
Quem haveria de esperar o navio voltar?