Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Prazeres verdadeiros


Ela fumava um cigarro enrolada em uma toalha na sacada. Tinha os cabelos desarrumados e o batom vermelho gasto na boca marcando o cigarro. Respirava ainda ofegante e tinha o corpo trêmulo. Perdia-se entre pensamentos vazios, aproveitando com prazer cada tragada. Alguém lhe toca o ombro, ela se vira com desdém e apenas responde:
- Deixe o dinheiro ao lado da cama.

Ele tenta beijá-la, ela se nega e apenas diz que o tempo já acabou. Ele pensa em ficar furioso, mas vira-se, deixa o dinheiro no criado-mudo e sai batendo a porta a fim de que ela note o seu descontentamento. Abre a porta novamente e grita a plenos pulmões:
- Nunca mais voltarei!

Ela dá uma tragada longa no cigarro e continua imóvel na sacada, sem responder-lhe nada. Não se importava se ele iria ou não voltar. Não fazia a mínima diferença para ela. Pensou que ele havia se apaixonado e riu uma risada silenciosa e debochada.

Apagou o cigarro manchado de vermelho com aquelas mãos brancas de unhas descascadas e voltou ao quarto. Contou o dinheiro, estava correto e foi tomar banho para tirar o cheiro dele do corpo.
A água morna lhe caia no corpo e a respiração já estava normal. Olhou o relógio de pulso e viu que poderia demorar-se no banho antes do próximo compromisso. Saber que poderia sentir a água morna mais tempo e brincar com a espuma inocentemente lhe fez sorrir novamente, agora um sorriso sincero e sem deboches.

Secou-se com demora apreciando cada pedaço de pele, maquiou-se novamente e escolheu o vermelho no batom como se ele fosse obrigação. Vestiu a lingerie com demora em frente ao espelho, namorando o próprio corpo. Vestiu-se sem parecer se preocupar muito com a roupa, tinha a certeza que a roupa tão logo estaria em um canto no chão do quarto, sem a menor importância.

As horas correram, a campainha tocou. Ela apressou-se em atender, não gostava de deixar ninguém esperando. Era profissional, acima de tudo. Mesmo que aquilo parecesse diversão.

O homem do outro lado da porta aparentava quarenta e cinco anos, era branco, alto, um pouco acima do peso e com uma barba já começando a ficar grisalha. Ela o puxou pela mão e o levou até o quarto. Ele quis conversar, ela o calou com um beijo, já abrindo os botões da camisa.

Não gostava de conversas, não gostava de enrolação. Tempo era dinheiro e na sua vida essa afirmação era muito verdadeira.
Ele, um tanto quanto afoito, tirou-lhe a roupa apressadamente. Ela sorriu um sorriso de “eu estava certa em saber que elas tão rápido iriam parar no chão do quarto”. Tirou as mãos dele quando chegou ao sutiã e afastando-se, fez charme para tirar. Ele ficou (mais) louco, como um cão vendo a fêmea no cio do outro lado do portão quase uivava. Ela, notando isso, demorou-se mais para tirar dançando da maneira mais sensual que alguém pode fazer e o afastava com as mãos toda vez que ele tentava se aproximar. Gostava de ver homens uivarem de prazer para ela, gostava de estar no comando, gostava de brincar com o prazer humano.

Teatro a mais, deixou ele se aproximar e este agarrou os seios dela com força o bastante para deixá-los vermelhos e sugou-os como se fosse fonte do mais puro mel do mundo. Ela acariciava e puxava seus cabelos com violência – ele gostava assim e ela sabia disso.
Beijaram-se e ela tirou-lhe a roupa, com a mesma vontade com que ele sugou seus seios, ela sugou o seu pau como se fosse realmente doce. Ele urrava de prazer, puxando os cabelos dela. Ela, de tempos em tempos, parava para que ele implorasse pela sua boca e olhava com um olhar de deixar cheio de tesão o mortal mais frígido que há nessa terra.
Percebendo que se não parasse ele iria gozar e acabar com toda a diversão, puxou-o para a cama e deixou que ele caísse sobre se corpo também sedento de tesão. Ele tão rapidamente o fez e sem mais demoras, como adolescente que vai perder a virgindade, penetrou-a sem muita cerimônia.  Ela gemeu e se contorcia loucamente, enquanto ele gritava para que gemesse mais alto, até todos os vizinhos escutarem. Ao contrário, ela sussurrou ao pé de seu ouvido:
- Depois eu grito da sacada que você é um único macho que eu tenho.
Era mentira, ambos sabiam. Mas na excitação do momento, mentiras eram permitidas e até uteis.
Ele gozou mais rápido do que ela esperava e notando que ela ainda não havia chegado lá rapidamente determinou que sua língua e dedos terminassem o serviço. Serviço feito, ela urrou de prazer e ele deixou-se cair sobre seu ventre. Ela se livrou dele, levantou, pegou a toalha e voltou à sacada. Ele foi atrás dela cobrando-lhe a promessa que havia feito em seu ouvido minutos antes. Ela, sem expressar nada, deu uma tragada em seu cigarro e respondeu:

- O tempo acabou. Vista-se e deixe o dinheiro ao lado da cama.

domingo, 5 de agosto de 2012

Estações de amor

Tem gente que gosta de amores de verão.
Eu acho que o único suor em um amor
Vem de outros calores quaisquer,
Que não são os de nenhuma estação.