Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

domingo, 19 de janeiro de 2014

A eterna adolescência

Ele ainda se masturbava pensando nela. Havia anos que ela tinha partido, que o casamento precoce havia esfriado toda a paixão adolescente que tinham outrora. Mas, mesmo não nutrindo mais um pingo de sentimento por ela, ainda nutria um desejo ardente meio idiota, como se todo o tesão do mundo estivesse contido nela e nas curvas que ela tinha.

Havia anos que não a via, já nem sabia mais se ela tinha aquelas curvas que sua lembrança guardou com tanto esmero. Poderia ter engordado, emagrecido, queimado a pele com o sol, parido cinco filhos, malhado como louca até ficar com músculos bizarramente maiores que os seus. Também não tinha a mínima pretensão de sair a procura-la pela vida. Talvez até porque, fazer isso poderia resultar em perder pra sempre esse eterno tesão adolescente.

E isso, tinha ele na cabeça, significaria envelhecer. Ou melhor, admitir estar envelhecendo. Ele guardava em seu peito um terror de envelhecer tão grande que já estava pensando em fazer terapia escondido – já que não admitia publicamente tal temor.

Entretanto, também não queria admitir ser tão humano e tão fraco. Imaginava-se no divã de um terapeuta contando: “Eu me masturbo pensando na minha primeira mulher de quando eu era adolescente pra me manter eternamente jovem.”. Ele estaria de costas, porém sentiria na nuca os risos abafados pela mão do terapeuta e um silêncio constrangedor até que este conseguisse parar de rir e tentasse formular alguma pergunta ou comentário que não fosse “Nossa, você é um grande babaca! Eu não consigo te ajudar!”.

Havia outro problema que, embora fosse grande, parecia menor se comparado ao pânico de envelhecer: ele trocava o nome de todas as mulheres com quem se relacionava pelo da primeira e claro, só conseguia atingir ao clímax pensando nesta. Na verdade, era como se, mesmo tendo feito sexo com várias mulheres, só tivesse feito sexo com uma a vida toda.

Isso o deixava louco, mas não parecia haver solução. O pior era que sempre acabava perdendo a graça no clímax quando a parceira da vez o olhava com uma cara horrível gritando “Peraí, cê me chamou de fulana? Quem é fulana?”. Pronto, acabava pra ela, tinha que acabar pra ele porque voltava à sombra do terapeuta o chamando de babaca.

Elas sempre se vestiam perguntando quem era a tal fulana vagabunda (porque mulher sempre acha que a outra é vagabunda, mesmo elas sendo apenas um caso de sexo sem compromisso gostam de uma possível exclusividade) e você continuava deitando na cama observando a cena e pensando se valia a pena tentar explicar a história. Sempre concluía que não, porque dificilmente ela acreditaria em algo tão estranho.

Suspirava profundamente ao ouvi-la batendo a porta ainda vociferando coisas que há tempos você deixou de escutar porque continuou no que lhe restava e estava acostumado: Carol, sua primeira mulher, ainda estava ali nos seus pensamentos tirando a roupa devagar para você e era com ela que passaria os próximos momentos felizes da vida.


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