Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

sábado, 1 de dezembro de 2012

Santa chuva


Chove e dentro de mim tudo é translúcido.
Gotas de água vindas do céu delicadamente
Misturam-se ao denso sangue das veias
E agora, sou aquosa e límpida.

Lá fora o céu abrilhanta-se em pedacinhos
Que como lágrimas choradas do mundo todo
Escorrem pelas diversas janelas
Sensibilizando os que ainda têm coração.

Os pássaros, em uma dança ensandecida,
Voam no céu cinza, sem medo da água.
Transformando o mundo num imenso quadro
Cujo pintor ainda está indeciso quanto à arte final.

Chove. E os sonhos agora lavados
Podem ser sonhados novamente por outrem.
Os donos iniciais dos sonhos têm então,
No cair das águas, a chance de novos sonhos.

A vida inteira renova-se com a chuva
Seguindo o exemplo das verdes folhas.
E estas, de tão alegres com as águas,
Dançam a dança outrora ensaiada com o vento.

Chove. E lá fora nada mais importa.
Porque o frio que gela o nariz é o mesmo
Capaz de aquecer um coração de pedra
De tanto encanto que a chuva tem.

Cada pingo carrega estórias e mais estórias
De nuvens distantes que agora choram
Por amor ou tristeza, por alegria ou por nada.
E estes podem ser sentidos pelos mais observadores.

A magia da chuva vai além da beleza,
Ela tem cheiro. E delicioso! E tato, e cor.
Mas o mais mágico na chuva é
O fato de ela limpar o coração da tristeza.



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