Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

domingo, 29 de novembro de 2009

Não tenho cor!
Não sou céu,
Não sou maçã,
Nem asfalto.
Que cor é o nada?

Não tenho cheiro!
Não sou rosa,
Não sou lixo,
nem chuva.
Cheiro de incolor existe?

Não tenho idade!
Não sou relógio,
Não sou sol,
Nem calendário.
Quantos anos tem o eterno?

Não tenho sentimento!
Não sou amor,
Não sou ódio,
Nem indiferença.
Como sente-se o invisível?

Tenho apenas a certeza
De onde eu vim
E para onde eu vou.
Tudo para ser perfeita.
Enfim, sou alma.

2 comentários:

eloisa disse...

Se você tem a certeza, você não pode ser o nada. Porque o nada, antes de tudo, é incerto.

Meu beijo!

Anônimo disse...

A coerência do texto nasce justamente das idéias que se opõem, penso. As exclamações e as interrogações demonstram um ser querendo mostrar-se como um não-nada, enquanto que tudo leva a crer que o ser é o próprio nada. Nesse contexto o ser acaba sendo nada, mesmo sem sê-lo. A idéia poética é essa, percebo: questionar-se sobre o que se é, enquanto também se questionado o que se entende por ser.
E o texto termina com a "alma" que, assim como o nada, ninguém sabe precisamente o que é ou de onde veio, mas deduz-se que o tal nada voltara a ser nada, se perder este estado algum dia.