Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

quarta-feira, 18 de março de 2009

Coleções

Ela colecionava amores como quem coleciona figurinhas que já não tem valia alguma, entretanto não podem ser jogadas fora.

Alguns dos amores que tinha haviam sido explosivos, repletos de nobre sentimento e de ósculos doces capazes de deixar a sua face rubra. Alguns, nunca deixaram de ser sonho. Amores que ela docemente inventou, sem saber ao certo se havia erciprocidade e com ósculos de além-vento, mas ainda assim com o mais nobre sentimento.

De cada um de seus amores ficavam lembranças, algumas tolas, mas não menos importantes. Lembrava de cheiros, gostos, mãos, nós no cabelo, lugares, ruas, narizes e poemas. E havia nela uma enorme relevância em cada recordação.

Durante muitos dias acordou, sem amor e sem afeto, e ferozmente, vasculhou seu coração afim de limpar aquelas recordações daqueles amores que, nestes dias, eram pesadas e tristes.

Sem sucesso, revirava de ponta a ponta seu coração, sentindo cada calafrio novamente e o pesar de seus sentimentos, antagonicamente, aumentava a medida que ela, inocente e furiosa, os tentava esquecer.

Desgastada e vencida, desistia e os amores voltavam a ser leves e apanas amores.

Lembrava-se então de um poeta que dizia: "Todo amor é eterno. Se não é eterno, não era amor". Seu peito todo se orgulhava dos amores que colecionava neste. Concordando com Nelson Rodrigues, esboçava um sorriso de satisfação e com este mesmo sorriso dormia e acordava, ainda feliz pelos amores que tinha.

Danieli Buzzacaro
17/03/2009

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