Eu gosto do cheiro das manhãs. De quando o sol vai nascendo tímido no
horizonte, a temperatura vai aumentando devagar - ainda há o vento gelado em doces afagos no cabelo, o céu veste cores variadas e lindas e
os pássaros aparecem no céu rompendo o silêncio da madrugada; marcando o início
de um novo dia, de um novo ciclo. Do tempo que se repete, da rotina da natureza,
o normal do normal.
Depois o cheiro de café ou de shampoo, o cheiro do sono escorrendo pelo
ralo do banheiro gelado como a água do banho ou descendo pela garganta com o
amargo quente do café. Os cheiros que mudam, pois, a rotina das pessoas não é
como a dos pássaros: não é simplesmente acordar e saber para onde ir, ter todo
dia a mesma convicção do que fazer.
Tem dias que eu acordo nada. Indiferente e quero da minha rotina um
tempo a mais entre o conforto das cobertas, a mente ainda meio desligada, um pé
na realidade, outro no mundo dos sonhos: remoendo estes da noite. E sonhos também
dão cheiros às manhãs: bons ou ruins, de lembranças, lugares e gentes.
Tem dias que eu acordo com saudade e saudade consegue ser uma emoção tão
dúbia: abre sorrisos e enche olhos de lágrimas, enche e aperta corações; dá
vontade de ligar, de mandar mensagem, de gritar ao mundo, de mandar áudio falando
bem baixinho: “oi, eu tô com saudade”, mas às vezes, saudade vem
acompanhada de orgulho e aí não tem mensagem e tem coração mais apertadinho. E saudade
tem um cheiro engraçado, que muda e confunde a gente, meio a meio, como é meio
a meio a sensação.
Tem dias que a carência é que acorda primeiro. Me faço cafuné, abraço travesseiro,
faço cafuné no gato, sinto abraço na água do chuveiro, preparo um café mais
caprichado que o café amargo + pão de quase todos os dias: arrumo uma omelete, uma
vitamina, torradinhas com geleia caseira, ovos beneditinos. Mas nem todo dia
que a carência acorda, o auto amor acorda junto. Às vezes a carência é tão grande
que chega a ser de si mesmo. E esses dias tem cheiro de chá de camomila e
flores do campo.
Tem dias de sorriso enorme ao acordar, espreguiça, sente o ar nas mãos,
sai ainda sem roupa para a varanda: o vento ainda está gelado, o sol ainda está
aparecendo, os pássaros estão acordando -
é o início do ciclo – senta confortavelmente e fica admirando a rotina, o
dia, o cheiro de manhã tradicional. Complementa com cheiro de café, que é
tomado na varanda acompanhado de cheiro de manhã e do falatório de bom dia dos
pássaros.
E hoje, eu sonhei com você e acordei com meio que tudo isso, inclusive o orgulho. Então é sonho que vai seguir dentro, é sonho de rotina íntima, é sonho que não entra no ciclo.
Danieli Buzzacaro
06/07/20
Danieli Buzzacaro
06/07/20
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