Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Dores

Não tive medo. A água estava deveras escura naquele dia, os instrutores diziam: não merguhe, pode morrer; algumas pessoas que passeavam pela praia diziam: você consegue, mergulhe.

Cerrando os ouvidos e respirando fundo, atirei-me à água. Não via mais ninguém, nem meus pensamentos, nem meu coração. Tudo era escuro e desconhecido ali. Não havia vida de espécie alguma, não havia cheiro, nem gosto, só um sentir-se bem estranho e vago.

Não entendia como podia ter aquela sensação em uma água tão escura e profunda, a qual já havia matado tantos que antes nela mergulharam. Não entendia como poderia poderia sentir tranquilidade em uma água tão conturbada.

Fui mais fundo, perdida, com fome, sem visão. Deveria ter parado, mas não o fiz, meu coração queria seguir em frente, a cabeça não. Esquecendo da razão novamente, ouvi o coração e continuei.

Comecei a sentir as pernas trêmulas de medo, o coração estava parado, já agonizava em pavor, admitindo o erro do meu coração, quando encontrei uma luz branca muito intensa. Os olhos ficaram em choque, não imaginavam encontrar tamanha luz na escuridão.

De repente tudo tornou-se bonito, tudo virou calmaria, meu coração assossegou-se. Não sabia que lugar era aquele, ele ainda me era desconhecido, mas me trazia imensa paz, muita paz.

Ali havia um cheiro bom de segurança e era como se alguém me seguisse. Pesquisando mais percebi que estava dentro de um coração. Era um dos mais bonitos que eu já conhecera. Apaixonei-me por aquele coração, mergulhei mais fundo naquelas águas, sem medo.

Ali, eu esqueci as dores do meu coração. Colei-o, pedacinho a pedacinho, pensando que ele nunca mais seria quebrado. Mas quanto engano! O pobre do meu coração recém colado quebrou-se mais cedo do que eu mesma imaginava.

Agora, há o medo de voltar. A água é escura e cheira à desamor, meu coração é só desassossego e falta muito pouco para ficar ali, perdido nas águas escuras pra sempre, como se nunca tivesse existido de tanta dor.

Um comentário:

Maycon Batestin disse...

outra obra prima!
rs

adiconei vc nos meus blogs, ao menos o que entendo de adicionar né